"Não fale, mostre!" Essa frase famosa pode ser muito bem aplicada ao assunto Inteligência Artificial (IA). É que muitos filmes já foram feitos sobre o tema, dando-nos a oportunidade de aprendermos algo relevante para compreendermos o nosso tempo e, de bônus, ainda nos divertimos um pouco.
Entre os títulos disponíveis sobre IA, as minhas sugestões são "O Jogo da Imitação", "2001 - Uma Odisseia no Espaço", "Ela" e "Ex_Machina: Instinto Artificial"; de preferência, que eles sejam vistos nessa ordem, devido ao contexto histórico e evolutivo das máquinas que serão apresentadas.
O Jogo da Imitação (2014, Morten Tyldum)
A adaptação do livro Alan Turing: The Enigma, de Andre Hodges, nos apresenta a um dos nomes mais importantes para a criação da IA: o matemático e criptoanalista inglês Alan Turing (1912 - 1954).
Nesse filme, Turing (Benedict Cumberbatch) é mostrado em dois momentos de sua vida. Na década de 1950, quando ele precisou se justificar para a polícia local sobre um roubo ocorrido em sua casa, fato que culminou com a descoberta de sua orientação sexual e mudou o rumo da sua vida; e, em flashbacks, na década de 1940, quando ele se voluntariou para decoficar a máquina Enigma, usada pelos alemães para se comunicarem durante a II Guerra Mundial.
Turing e outros criptólogos precisaram trabalhar juntos para decifrarem o tal código e, com isso, ajudarem a acabar com o conflito. No entanto, as abordagens deles foram bem diferentes. Enquanto os demais criptoanalistas tentaram o método tradicional e manual de decifrar códigos, Alan determinou que somente uma máquina poderia vencer outra e começou a criar a primeira versão do equipamento que viria a ser chamado de "computador" e que ajudaria Winston Churchil e seus aliados a colocarem um ponto final na guerra.
Em 1950, Turing introduziu o conceito de Inteligência Artificial em seu artigo Computing Machinery and Intelligence. Nele, o cientista destacou a possibilidade de máquinas mostrarem comportamentos inteligentes e similares aos de seres humanos a ponto de fazerem com que as pessoas que estivessem comunicando-se com elas, sem vê-las, acreditassem tratar-se de outros seres humanos. Essa abordagem ficou conhecida como Teste de Turing.
Esse filme biográfico combina emoção e ação na medida certa e nos dá uma ideia de quem foi um dos homens mais inteligentes que habitou este planeta.
2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968, Stanley Kubrick)
Quem diria que um conto, neste caso, The Sentinel, seria o ponto de partida para um dos filmes mais fantásticos de todos os tempos? Pois foi isso que aconteceu quando Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, o autor do conto, decidiram trabalhar juntos e apresentarem ao mundo 2001 - Uma Odisseia no Espaço, uma história de ficção científica, cheia de nuances e dividida em quatro partes:
A aurora do homem acontece na pré-História e mostra duas tribos de macacos lutando pelas suas respectivas sobrevivências;
AMT-1 mostra a viagem espacial do cientista Dr. Heywood R. Floyd da Terra para a Lua, a fim de conferir o misterioso artefato chamado de Anomalia Magnética Tycho Um;
Missão Júpiter mostra a nave espacial Discovery e seus tripulantes a caminho de Júpiter, numa missão cujo objetivo eles só conhecerão quando chegarem ao destino; e
Júpiter e Além do Infinito apresenta o desfecho espetacular do filme.
O que une as quatro partes é a presença de um misterioso monólito extra-terrestre, bem como o interesse do homem em entendê-lo.
No caso da Inteligência Artificial, esse assunto é explorado na terceira parte da trama e representado pela figura de HAL 9000, um computador inteligente e considerado infalível no comando das operações da nave Discovery. Todavia, a partir do momento em que uma pergunta a respeito da capacidade dessa máquina ter sentimentos é feita, uma dúvida paira no ar. E a melhor forma de esclarecê-la é assistindo essa obra prima de Kubrick e Clarke.
Ela (2013, Spike Jonze)
Nesta combinação de romance, comédia dramática e ficção científica, ambientada num futuro não muito distante, somos apresentados a Theodore (Joaquin Phoenix), um escritor recém-separado e em processo de divórcio que decide comprar um sistema operacional com Inteligência Artificial acoplada para o seu computador.
Como está solitário e deprimido, esse homem acaba se deixando envolver pela bela voz feminina, pela inteligência e pela atenção dedicada de sua nova assistente virtual, Samantha (voz de Scarlett Johansson), chegando a levá-la para todos os cantos e a apresentá-la aos demais como sua namorada.
Acontece que a capacidade de Samantha de aprender com os humanos, com suas qualidades e defeitos, e de adaptar-se e evoluir exponencialmente acaba gerando estranhamentos entre ela e Theodore. Uma pergunta que cabe aqui é a de que "se não existe ser humano perfeito, como uma máquina com inteligência semelhante a dele poderia não cometer erros?"
Outro ponto interessante desse filme é pensar se, tal como Samantha e Theodore, em algum momento futuro, máquinas com Inteligência Artificial conseguirão substituir outros seres humanos, especialmente, os amados, em nossas vidas.
A história iniciada por Steven Spielberg em A.I - Inteligência Artificial (2001) e elevada, aqui, a outro patamar por Spike Jonze será, seguramente, continuada por outros diretores. Até que isso aconteça, o que podemos deduzir é que o relacionamento homem-máquina será tão complexo quanto o existente entre humanos.
Ex_Machina: Instinto Artificial (2015, Alex Garlang)
O habilidoso programador de computadores Caleb Smith (Domhnall Gleeson) é convidado para passar um fim de semana na casa de seu chefe, o recluso Nathan Bateman (Oscar Isaac), dono e CEO da empresa de tecnologia Blue Book e considerado um gênio da programação.
Chegando ao destino, Caleb recebe a missão de conversar com Ava (Alicia Vikander), um robô de aparência feminina, programado com Inteligência Artificial. O objetivo de Nathan é realizar o Teste de Turing, mas permitindo que o humano veja a máquina com a qual está interagindo. Se, mesmo nessa condição, Caleb se envolver com Ava a ponto e confundi-la com outro ser humano, então Nathan saberá que criou o ser tecnológico mais perfeito de todos, o que, em sua concepção, o equipararia a Deus.
Este filme combina ficção científica com mistério e suspense, o que me impede de comentar muito sobre ele. Você precisará assisti-lo para entender o quanto ele é interessante e o quanto nós ficaremos vulneráveis se o que foi mostrado na ficção virar realidade no futuro. O que eu posso dizer é que muitos computadores estão por aí interagindo com pessoas, mas um igual a Ava, eu desconheço.
As quatro histórias foram bem desenvolvidas, fornecendo muita informação interessante sobre Inteligência Artificial. Elas partem do pensamento de Alan Turing, em "O Jogo da Imitação", e terminam com o teste dele sendo aplicado nas máquinas evoluídas de "Ex_Machina". Combinados, esses filmes são instrutivos, reveladores, pertubadores e muito divertidos.
Até o próximo post.
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